Não levo a internet a sério, agora. Antes, o espaço público de comunicação era mediado pela ética ou pela falta dela. Era o modelo “feixe” de emissoras. Para toda sorte, tinha um jornalista experiente que calculava o impacto da notícia para a empresa e para o repórter.
Ocorrem-me duas perspectivas. Na primeira, a inteligência artificial pode fazer coleta, tratamento e apresentação de dados. A figura do apresentador do tempo pode ser superada por apps, tanto quanto a redação de notas. Um robô bem ensinado escreve bem a partir de releases.
Depois, que o funeral do jornalismo terá de esperar uma mudança na legislação. Pelo IBGE, 87,9% dos lares brasileiros tem rádio, e 93% televisão. Apesar da receita de publicidade ter diminuído significativamente, uma TV brasileira lidera o mercado, à frente de Facebook e Google.
É comum do patrão de comunicação social apregoar o terríveis os tempos de agora, desde o dia um do negócio. Ora, se a produção de noticiário profissional em 2021 é contemptível, tratemos de reorganizar as concessões. Pau que bate em Chico.
No Decreto de 1983, do último presidente da ditadura, João Figueiredo (o que preferia cheiro de cavalos a cheiro do povo): “não transmitir programas que atentem contra o sentimento público, expondo pessoas a situações que, de alguma forma, redundem em constrangimento”.
“Nem o papa, Maria da Graça, nem os santos, ninguém pode no mundo responder sem pestanejar à pergunta”: os jornalistas são mais capazes que publicitários e analistas de dados para limpar a sujeira das bolhas?