Apresento algumas considerações à discussão sobre transdisciplinaridade. Elas são sediadas no desenvolvimento de duas pesquisas científicas realizadas em campos diferentes, a saber filosofia e comunicação. O assunto pode ficar interessante.
De um jeito simples, transdisciplinaridade é quando campos distintos da ciência colaboram mutuamente. Mas não somente influenciam ou são mencionados, trabalham juntos e se modificam. Exemplo: é o caso da artista Ana Bellenzier ter pesquisado arte (um campo) na geografia (outro campo). Voltemos as minhas impressões.
Minha primeira pesquisa passa pela recepção da comunicação política na filosofia da psicanálise. Esse acúmulo de palavras pode fazer soar menos simples do que é: estou fazendo uma psicanálise da democracia digital do Brasil (são conclusões preocupantes).
A filosofia contemporânea tem se permitido prestar atenção na vida política, e eu anotaria que a partir de abordagens notadamente pragmáticas. O uso eleitoral da religião no Brasil e a pandemia de Covid-19 são exemplos temáticos. É uma oportunidade para analisar o tempo presente.
Nesse contexto, psicanalisar a relação do eleitor brasileiro com a política é bem-vindo para a filosofia. Até porque há autores comuns da filosofia, política e comunicação, como é o caso de Flusser e de Habermas. Essa fluidez constitui uma ponte para a comunicação.
A conversa dos campos científicos filosofia e comunicação tem se mostrado rica e promissora. São campos conexos, embora suas constituições históricas estejam distantes cerca de dois mil anos.
Minha segunda pesquisa é sobre a comunicação de eleitores críticos do Supremo Tribunal Federal e dos ministros da Corte. Embora a pesquisa em comunicação seja uma consequência da filosofia, da ciência política, etc, ela agora está estabelecida como um campo próprio.
É quando nos perguntamos: o que tem de comunicação nessa pesquisa em comunicação? O que ela tem de diferente de uma pesquisa na sociologia ou na psicologia? As respostas a essas perguntas podem fazer a comunicação e a filosofia se parecerem bastante. Por quê?
A característica mais marcante do campo comunicação é que ele é uma espécie de espaço intermediário, um vão livre, em que todas as contribuições sobre comunicação são bem-vindas (menos a opinião de influencers — risos). E a filosofia se sente muito à vontade em espaços assim.