Querida amiga Ety, escrevo com o coração partido. Há poucas horas, tomei o cuidado de fechar a boca do impulso quando me perguntou: “O que é felicidade?”. Qualquer resposta parece ser, por mera necessidade da linguagem, da palavra, uma tristeza em si mesma e, logo, um tipo de contradição para a pergunta. Gosto da ideia de que príncipes materializados se tornam menos capazes de nos governar – uma ideia roubada da literatura francesa quando se atreveu a classificar os persas. Estamos, nestes dias, com calor fora do corpo.
O copo é um problema para alguns amigos chegados. As bebedeiras sem fim terminam quase que invariavelmente em grosserias semeadas à sorte, e trabalho para quem está em volta – recolher desafetos, cacos e garrafas pela metade. Isso está me consumindo – porque não gostaria de ver gente que se poderia salvar destruindo o próprio corpo e, junto a isso, todas as relações que direta ou indiretamente estão ligadas a tal corpo. Pensei, sobre a autodestruição desses, na expressão “pérfido”, porque preferem derrubarse-se a tão somente deixar-se em pé.
Adeus.