Depois da semana em que velei um avô e enterrei uma amiga, sem contar o padrinho de Ata, natural que se fique mais dentro. Voltei a perguntar sobre mim quando li em um livro de McLuhan: “Façam circular o boato que Deus está vivo”. Não que seja preciso morrer alguém para que em mim haja perspectiva. Mas chorei seco nos últimos dias (acho que não foi só por coisas de fora).
Leia quem quiser, obrigado pelo acompanhamento, esta é para mim. Andar ao lado deste buraco exige alguma coragem, para que não se tropece para o fundo, por ridícula simplicidade. “Seu pior medo é o que lhe sobrevém”, dizia o amigo Marcos, no tempo em que eu o levava exclusivamente a sério. Mas não se engane, Marcos. Nunca estive tão forte.
Tenho lembrado muito de Gabrielle e Dudson. De nossos desenhos assimétricos, das madrugadas incansáveis, quando decidimos como seria o futuro, com quem, com todos aqueles desejos de matar e morrer. Com isso fomos nos tornando adultos, com muita naturalidade. Mas o ponto exato foi nossa concepção de tricotomia – corpo, alma e espírito – a qual se expressa neste momento em uma guerra que desanda tudo. Um assunto predileto.
Tinha explicado aos amigos uma de minhas hipóteses sobre a vida com uma animação 3D. Uma bolinha de tênis percorrendo um tubo transparente, partindo de uma extremidade à outra e então fazendo o caminho contrário rapidamente, tão rapidamente que seria impossível destacar uma imagem para determinar a localização exata. Extremidade positiva e extremidade negativa. Mas falamos agora de tricotomia. Os assuntos da dualidade estão previamente explicados, em particular pelo que se pode aproveitar das religiões orientais.
De um lado a carne, do outro o espírito, uma alma no meio, fazendo sanduíche. A diferença é que agora vejo tudo em detalhe, primeiro um lado, depois o outro, ainda em movimento, mas com a impressão mais contemplativa.
Escrito em 2011.