O post do jornalista Fernando Rodrigues é um belo de um refluxo no Dia do Repórter. Daqui para frente, integra meu cânone sagrado da profissão, tal qual uma carta paulina que tem lá suas dissonâncias.
O jornalismo, ainda que não se valha da Teoria Crítica, a partir da qual se pode nomear inúmeros fenômenos e comportamentos, ou de qualquer outra teoria, tem nele um olhar para o mundo que faz perguntas objetivas, dentre as quais “por que existimos?”.
O repórter do futuro, ao contrário do pornográfico (HAN, 2017), terá de, antes de discussões muito elaboradas, voltar-se para o vocabulário. É como se os icônicos vícios “veranistas” ou “foliões” tivessem saído do controle.
O acesso a produtos culturais modestos, como os oferecidos por influenciadores digitais, ou mesmo programas bem produzidos de televisão com hipérboles que não terminam jamais, ou as paupérrimas rimas sertanejas sobre um amor obstinado quando não violento, deve integrar o repertório. Mas, quando esses elementos são os únicos óculos para se ver o mundo, não há boa comunicação, que dirá jornalismo.
Quando U2 lançou o álbum “No Line On The Horizon“, comentei com uma amiga compositora que o tinha considerado triste, mais triste que o anterior, lá em 2008. A resposta dela me marcou: “não estamos melhorando”. "O dia da criação", de Vinicius de Moraes:
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Nosso ofício requer de nós mais profundidade, e não menos. Requer mais empatia verdadeira, não uma fala superficial sobre um assunto que eu até nem concordo tanto mas te entendo (na verdade não entende nada).
Suicídio de idosos, superação do luto, depressão infantil, pornografia como doença, violência bancária são alguns dos temas que vão estar no agenda-setting, amanhã. E não devem ser tratados com trocadilhos bobos.
Mais assim: “Agora que sou um homem completo, estou cheio de vazios”.
Força, repórteres. Aqui continua tudo mato.
HAN, Byung-Chul. Sociedade da transparência. Editora Vozes, 2017.