Religião nas eleições do Brasil é tema filosófico internacional

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9/5/2023
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Teologia pública é o tema de um seminário internacional da Universidade de Edimburgo. Ele é conduzido pelo Dr. Ulrich Schmiedel. O caso brasileiro do uso da religião para fins políticos é abordado pelos pesquisadores Dra. Magali Cunha e Dr. Rudolf von Sinner. Destaco uma fala dela que combate o preconceito contra protestantes. Tidos por alguns segmentos como operadores principais da contaminação entre estado e religião no Brasil, há registros históricos de que tal contaminação existe antes das igrejas evangélicas.

Professora assistente de estudos religiosos da Universidade das Religiões de Qom, no Irã, a pesquisadora Dra. Fatima Tofigui trata da diferença entre "influência profética" e califado. Para a primeira, a relação com mundo invisível é principal, enquanto para o segundo, embora sediado em palavras proféticas, o resultado da vivência é o poder material.

O debate central da apresentação de Dra. Fatima é legitimação da autoridade política baseada em palavras proféticas. Um dos autores trazidos por ela, Mohammed Iabal, defende o islamismo como “experiência religiosa” similar a outras fora do islã. Seu significado, portanto, estaria restrito a uma experiência individual. Esse ponto tornaria a manutenção de uma democracia inspirada no divino mais difícil.

Nos anos 60, autores chegaram a escrever sobre teologia e a Causa Palestina, o que cessou de lá para cá.

Definição de teologia pública

Minha contribuição para o seminário é a seguinte. Provocado pelo Dr. Schmiedel, experimentei uma definição do que poderia ser “teologia pública”. Traduzo para o português, logo abaixo.

Public theology can be described as the amalgamation of the concepts of State, democracy, and spirituality. Nevertheless, it is crucial to inquire about the aspects that differentiate public theology from a theocratic state. In countries where religion holds a dominant position in the government, the term "public theology" may not be applicable as the prevailing theology is intrinsically associated with a specific religion. Hence, such theology cannot be categorized as public. Consequently, public theology belongs simultaneously to the State and the various spiritual experiences. Moreover, public theology is intimately connected to collective sentiment, which concerns the establishment of communities and the regulations that govern these communities (revisado por Karine Porto Lopes Ono).

A teologia pública pode ser descrita como a fusão dos conceitos de estado, democracia e espiritualidade. No entanto, é crucial indagar sobre os aspectos que diferenciam a teologia pública de um estado teocrático, por exemplo. Em países onde a religião detém uma posição dominante no governo, o termo “teologia pública” pode não ser aplicável, pois a teologia prevalecente está intrinsecamente associada a uma religião específica. Portanto, tal teologia não pode ser categorizada como pública. Consequentemente, teologia pública pertence simultaneamente ao Estado e às diversas experiências espirituais. Além disso, a teologia pública está intimamente ligada ao sentimento coletivo, que diz respeito ao estabelecimento de comunidades e aos regulamentos que governam essas comunidades.

Federal do Paraná

As professoras Dra. Kelly Prudencio e Dra. Carla Rizzoto, em 2017, promoveram o seminário "Mobilização da opinião pública", na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nele, a Teoria do Reconhecimento e suas derivações levaram a discussões imprescindíveis à pesquisa em comunicação que antecedeu os fenômenos políticos de 2018. Foi uma espécie de último fôlego racional antes da quebradeira que teve inúmeras vezes centralidade na religião.

Qual é a religião de Jair Bolsonaro, por exemplo? É sabido que o ex-presidente tomou um lado para si, e o salientou pela performance da ex-primeira-dama Michelle.

Em tempo

De quem é a responsabilidade pela contenção da violência contra a mulher senão dos homens? De quem é a responsabilidade contra o racismo senão dos brancos? De quem é a responsabilidade contra o fascismo senão dos fanáticos? E como persuadir homens, brancos, e fanáticos senão falando com eles? Esse é, para mim, o dilema do meu século.

Considero os seguintes versos de Vinicius de Moraes apropriados para este artigo.

Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida.
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso1.

Há alguns dias, ouvi de um bolsonarista: "estou para acreditar que o bolsonarista é pior que o petista". Ao que respondi, "com certeza o petista é pior".

Referências

1. Moares, Vinicius de. Mensagem à poesia. Rio de Janeiro: 1954. Disponível em: <https://sgar.be/k4jq>. Acesso em: 6 mar. 2023.

ABNT
SGARBE, V.
Religião nas eleições do Brasil é tema filosófico internacional
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Lab Jornalismo 2050.
Curitiba,
2023
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