Em janeiro de 2009, poucas semanas depois da reeleição de Beto Richa à prefeitura de Curitiba (77,2%), uma mulher caiu de um ônibus superlotado e morreu na hora. O jeito que a reportagem soube do assunto é dos piores. Um ouvinte ligou para a produção da rádio e disse “uma mulher morreu na BR”. Ao que o jornalista perguntou “o senhor tem certeza de que ela está morta?”. “A menos que possa viver sem a cabeça, está”, treplicou.
No noticiário, o assunto foi uma comoção. Tratava-se de uma trabalhadora dos serviços gerais, de uma linha que dava sinais de estafa há bastante tempo, porque foi violento demais até para os padrões da capital. Eu mesmo estive no sepultamento. Foi em um cemitério simples da Região Metropolitana, com as colegas da morta uniformizadas, tal qual tinham ido direto da copa para o enterro.
Quando o assunto chegou à ancoragem de José Wille, na CBN Curitiba, o comentarista ídolo Luiz Geraldo Mazza saiu com algo mais ou menos assim: “a morte dessa mulher é resultado dos 77%”. Não muito longe dali, da felicidade peessedebista de uma votação recorde, de uma aprovação considerada gloriosa, Richa foi ao governo do Paraná e, para além dali, para o banco de trás de um camburão.
Até hoje não me apresentaram razões plausíveis para a prisão de Richa (escrevi para O Globo sobre o assunto, por mais de uma vez, o que me dá a dimensão de imprensa nacional sobre o assunto). Seja lá o que tenha feito, ofendeu a alguém que não se ofende. Uma jornalista que assessorou Richa à época da prefeitura explicou assim: “as pessoas em volta de Richa o encastelaram. Ele ficou sem referências, e caiu fácil no que queriam dele”. Faz sentido, porque ouvi algo similar de Euclides Scalco. Aliás, naquela manhã Scalco estava tão mal, mas tão mal, que Hélio Pugliesi disse a ele: “não fique tão triste, meu amigo”.
Penso que o remédio amargo seja evitar os bajuladores.