Os assassinatos de Bruno e Dom podem ser circunstanciais? Podem. As prisões podem ser uma farsa do crime organizado? Podem. Tudo “podem”, tem potencial de ser. Até o que o que a gente não gostaria. Mas não pode, presidente Bolsonaro, a gente infundir covardia no brasileiro.
Fiquei barbarizado — e veja que é preciso uma dose grande de barbárie para que eu me admire, sou um “pessimista sereno” — ao ouvir uma senhorinha que é tudo amor é serviço se questionar: “mas o que que [os mortos] tinham que fazer na Amazônia?”. O que primeiro, ovo ou galinha?
Entendo, da parte de amigos bolsonaristas (que são muitos e amigos de verdade) que o “brasileiro médio”, na interpretação deles, é o que pergunta essas coisas. Mas, presidente, o senhor não é um brasileiro médio. O senhor é o presidente da República. Por mais quatro anos?
Sou frequentemente cético dos rancores comuns contra o senhor — isso é fato. Eu não vos odeio, sequer tenho um motivo para isso (sou um jornalista analisado), mas me oponho a qualquer ação presidencial que não seja na direção de desfazer fechamentos com derramamento de sangue.
Não se pode culpar pesquisadores por pesquisar. Aliás, é “justo e necessário” que façam. Ainda não entendo por que o jornalismo (ainda que corroído de defeitos de ordem básica, de ordem lexical, de ordem sintática) não pode servir a um governo (mesmo assim).
As mortes desses caras me levam a um cenário em que as luzes se apagam, o silêncio se instala, e vêm um bando de amputados nos segurar a canela para decidir se seremos devorados pelas doenças deles. Os maus nos plantam verrugas horríveis na face.
Quem se oporá a uma brilhante investigação? Quem se oporá a uma rigorosa pena aos assassinos ou mandantes? Quem se oporá a um governo que desbarata a incivilidade da exploração humana? Quem se ofenderá por um “não!” ao mercado de almas?
Presidente Bolsonaro, temos nossas diferenças, porque sou muito pior que o senhor em praticamente qualquer assunto, mas vos convido a me dar prova governamental e social do que é uma “nação”, afinal de contas. Fazei-me coçar de vontade de ser nacionalista.