Discordo da opinião da Folha de S. Paulo que considera a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para presidente da Câmara dos Deputados “retrocesso intolerável” (1º.fev.2021, A2, “Risco de servilismo“). Os legisladores escolherem tal presidente é, ao contrário, avanço dos limites que somos capazes de suportar na vida pública.
Para o contribuinte, que não teve nos impostos diminuição na proporção da escassez de serviços de saúde e das possibilidades de trabalho, resta votar nas eleições que compõem o Congresso.
Os movimentos sociais como compreendidos pelos estudos da comunicação política da Europa e dos Estados Unidos têm foco no legislativo. A glória desses movimentos é alcançar a legislação. Ou seja, a Câmara e o Senado seriam, pelo menos na teoria, o grande palco para as questões da vida cotidiana.
Não tem sido assim. O ódio coloca o Executivo no centro da atenção e imobiliza causas urgentes.
Atualmente, 16 requerimentos de comissões parlamentares de inquérito (CPI) tramitam na Câmara, três relativos a exploração sexual infantil, turismo sexual e tráfico de pessoas.
O deputado André Figueiredo (PDT-CE) propôs a criação de CPI “destinada a investigar a violação dos princípios constitucionais e do Estado Democrático de Direito, em razão da suposta articulação entre os Membros da Procuradoria da República no Paraná e o então Juiz Sergio Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba, tornada pública pelo site The Intercept [sic]”. O último despacho vai fazer aniversário de um ano amanhã.
Que o Congresso se apequena ao presidido nas duas casas por desconhecidos — por reis do baixo clero — era de se esperar. Os deputados e senadores são do nível de Jair Bolsonaro.
A vida política vem ladeira abaixo, com pautas de costumes que lembram uma igreja evangélica pentecostal, mais pela disputa de cargos do que pelo comprimento da saia.