Freud explica? Nem Freud explica? O fato é que o psicanalista de Viena não está mais vivo para dar ele mesmo as explicações que gostaríamos. Esses dias, lendo um dos livros dele, encontrei uma nota de rodapé espirituosa, mais ou menos assim: “casais podem se ligar pelo amor e pela violência. Temos que estar preparados para isso, porque nem todos seremos como aquela camponesa que reclama que o marido não a ama mais porque há duas semanas não a espanca”. A literatura freudiana está distante de ser enfadonha.
O autor é amplamente famoso, desde as comunidades psicanalíticas, passando pela academia científica, ou em projetos de leitura individuais. Para uns, um gênio sincero e generoso, para outros, um “maluco”. Para quem teve qualquer aproximação decente com a psicanálise, sabe-se, sobre o assunto anterior, que tanto faz. Para toda grande luz existe sua igualmente grande escuridão correspondente. E, combinemos, não se deve jogar o bebê com a água do banho. “E tá tudo bem”, diria sorrindo a psicanalista Áurea Moneo (na imagem a seguir). Ela é professora de psicanalistas em formação, e supervisora de quem atua como analista.
Vinícius Sgarbe: Querida Áurea, penso que há um poder descomunal na psicanálise, bem como em qualquer outra coisa em que se acredite com firmeza. Às vezes, encontro na internet frases atribuídas a Freud que certamente ele jamais disse ou escreveu. Mas pouco ou nada me afeta, porque não sou tomado por ciúmes. Penso que nesta altura do campeonato toda ajuda é bem-vinda. Além do mais, Freud não me paga para eu ser fiscal da marca dele — risos. Conte-me, minha amiga, que pé que está sua psicanálise?
Área Moneo: Querido Vinicius, acredito que tanto tempo depois e continuar a ser tão lembrado, sendo a ele atribuídas diversas falas, a maioria delas típicas da nossa contemporaneidade, é claro sinal de seu brilhantismo. Talvez um dos poucos ícones que mereça tanta reverência, tanto dos que o odeiam, por não se permitirem admirar, como daqueles que o admiram de fato. Segue, mais vivo do que nunca, em nossa memória. E, em tempos de construção de narrativas, segue alimentando desejos do inconsciente, validando falas de autores anônimos.
Para se tornar um psicanalista não é preciso muito mais que uma curiosidade irremediável por pessoas. Isto é, o que move uma formação é a investigação da própria vida, onde tudo começa, e depois dos cenários em volta de nós, que frequentemente, senão sempre, estão cheios de “outros”.
Em linhas gerais, Freud é um ponto de partida, uma cartografia para se explorar a sabedoria e a ciência. Se Freud é a última palavra? Óbvio que não. Se outros autores são bem-vindos? Depende do autor — risos —, mas são apreciados, claro.
Nesta quinta-feira (11), e na quinta da próxima semana (18), às 19h30, o Illumen, um centro de formação em psicanálise clínica, promove aulas magnas da formação psicanalítica. A primeira tem o título "Autoconhecimento: visões da psicanálise", apresentada pela professora Anamaria Racy. No dia 18, Áurea Moneo fala sobre “As emoções e o adoecer”. Os participantes devem se inscrever no link abaixo. Vai ser on-line e de graça. Para saber mais sobre o Illumen, acesse o site.